Violência Contra a Mulher: Até Quando?
Data:25/06/2025 - Hora:07h53
Reprodução Web
Na manhã do dia 24 de junho de 2025, o município de Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, foi abalado por um crime que escancara, mais uma vez, a tragédia silenciosa e contínua da violência contra a mulher. O engenheiro agrônomo Daniel Frasson, de 36 anos, assassinou brutalmente a esposa, Gleici Keli Geraldo, com pelo menos seis facadas no pescoço e no tórax. Como se não bastasse, ele esfaqueou a própria filha, uma menina de apenas oito anos, desferindo sete golpes na criança, antes de tentar tirar a própria vida.
O caso é estarrecedor, mas, infelizmente, não é um ponto fora da curva. O que aconteceu em Lucas do Rio Verde se soma a uma estatística assustadora de mulheres assassinadas pelos próprios companheiros dentro de casa. Em muitos desses lares, que deveriam ser espaços de proteção e afeto, se esconde a face mais perversa do machismo e da misoginia. A tentativa de matar a filha revela o grau de crueldade que atravessa a mente de um agressor quando o sentimento de posse e controle sobre a mulher se desfaz. Quando o agressor percebe que perdeu o domínio, ele parte para a destruição — da vida da companheira, da família, e da inocência.
O Brasil tem leis de proteção à mulher, como a Lei Maria da Penha e, mais recentemente, o chamado “Pacote Antifeminicídio”, que transformou o feminicídio em crime autônomo e ainda mais severamente punido. No entanto, essas leis muitas vezes não conseguem ultrapassar os muros das estatísticas. Continuam sendo insuficientes diante da morosidade da Justiça, da ausência de estrutura adequada nas delegacias, da falta de acolhimento psicológico e, principalmente, da omissão social.
Não é exagero dizer que vivemos uma epidemia. A cada novo caso, somos lembrados de que a violência contra a mulher não é exceção, é rotina. Ela não acontece apenas em comunidades carentes ou em lares desestruturados — ela também está nas casas de classe média, nos condomínios de luxo, nas famílias aparentemente bem ajustadas. O silêncio é o maior cúmplice desses crimes. Silêncio da vizinhança que ouve, mas não denuncia. Silêncio de amigos que percebem sinais, mas não se envolvem. Silêncio de instituições que fecham os olhos para o perigo iminente até que o sangue seja manchete.
O que estamos esperando para agir? Até quando aceitaremos que meninas cresçam com medo dos próprios pais? Até quando vamos tratar o feminicídio como se fosse um drama individual e não um problema coletivo, estrutural, que exige uma resposta à altura? É urgente que o poder público ofereça mais do que palavras de pesar: precisamos de medidas reais e eficazes. Medidas protetivas que sejam emitidas com agilidade e que contem com fiscalização rigorosa. Casas de acolhimento, apoio psicológico, políticas de prevenção nas escolas e campanhas contínuas que ensinem desde cedo o respeito à mulher.
O crime em Lucas do Rio Verde não pode cair no esquecimento. A pequena vítima se sobreviver, porque está em estado grave, levará para sempre as marcas da tragédia. E a sociedade também deveria levar — não apenas como lamento, mas como responsabilidade. Enquanto continuarmos tratando casos como esse como exceções ou tragédias isoladas, estaremos condenando mais mulheres e crianças ao mesmo destino.
Não podemos aceitar o silêncio. Não podemos aceitar a impunidade. E, acima de tudo, não podemos aceitar que a próxima vítima já esteja marcada pela nossa inércia. Até quando?
fonte: Da Redação
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