Diretora administrativa: Rosane Michels
Domingo, 10 de Novembro de 2024
Pagina inicial Utimas notícias Expediente High Society Galeria Fale conosco
juba outra
Entre a política e a honestidade
Data:18/05/2024 - Hora:14h11

Todos gostaríamos que a honestidade na política fosse uma prática

 

Segundo Finley, Aristides - um líder político ateniense - encontrou certo aldeão que estava indo votar um ostracismo. Esse analfabeto, ao ver Aristides, pediu-lhe para escrever no caco de cerâmica (óstrakon) o nome: ARISTIDES. Então, o próprio Aristides perguntou-lhe: que mau Aristides lhe fizera? O homem respondeu:

“Absolutamente nenhum. Nem sequer conheço o homem, mas estou farto de ouvir chamar-lhe ‘O Justo’ por toda a parte.” Ao que Aristides, pois era ele o homem, claro, colocou seu próprio nome como lhe fora solicitado (ARISTIDES apud FINLEY, 1985).

Ostracismo era um instrumento na democracia grega usado para exilar ou banir algum cidadão que representasse algum tipo de ameaça à ordem democrática ateniense. Em que pese os atos de Aristides, fato é que boa parte dos leitores admiram a ação honesta de Aristides em escrever seu próprio nome no voto de condenação.

O aldeão era analfabeto, se o “Justo” escrevesse qualquer outra coisa, nem saberia. Mas o “probo” se recusa a tentação que assola os mais fracos e, honrosamente, prostra-se ante a vontade soberana popular, fazendo conforme lhe fora solicitado. Por outro lado, o aldeão, analfabeto, quer simplesmente banir um político por ser chamado de justo por toda parte. A injustiça está engatilhada!

Na verdade, isso tudo diz mais sobre Plutarco – o propagador dessa história – séculos depois, do que sobre Aristides (políticos) e o aldeão (cidadãos/camponeses). É, portanto, mais sobre a necessidade de propagandear a ideia de honestidade e honra (supostamente presentes no personagem Aristides), bem como da completa necessidade de tutelagem do pobre aldeão, entregue aos afetos e rancores, do que relatar um real acontecimento na democracia ateniense. 

É consenso, imagino, que todos gostaríamos que a honestidade na política fosse uma prática comum entre todos os envolvidos no sistema democrático representativo.

Estou me referindo aos políticos profissionais. Acredito que Plutarco também desejasse isso séculos atrás. Talvez essa propaganda moral tenha surtido algum efeito. É natural que todos desejem lideranças justas e honestas; não há nada de errado nisso, aliás, o contrário disso não é naturalmente esperado.

Contudo, é válido notar que escolhemos, historicamente, viver em uma democracia. Esse sistema é imperfeito e relativamente novo deste lado do mundo, porém é aquele cujos resultados são comprovadamente os melhores para a humanidade em todos os sentidos. Todavia, sua lógica de funcionamento possui regras próprias. O jogo democrático exige muita atenção e certa maturidade, pois ele é fluido e desloca-se para os lados que jogam melhor e com relativa facilidade. É necessário saber jogar!

Concordamos com Finley (1985), “cabalar, angariar votos, persuadir eleitores, permutar serviços, recompensas e benefícios, fazer ajustes e alianças, são técnicas essenciais da política na vida real, em toda e qualquer sociedade política conhecida, a linha entre a corrupção e não-corrupção é não só extremamente difícil de traçar como também muda de acordo com o sistema ético do observador”.

Quem joga na democracia são os humanos. A honestidade é esperada ao mesmo tempo, em que as paixões seduzem. É preciso esforço moral e ético no jogo!

 A cada dois anos no Brasil, colhemos resultados dos jogos democráticos em escalas municipais, estaduais ou de abrangência nacional, é o caso das eleições presidenciais. Nossos representantes nesses níveis, com exceção dos senadores, têm mandatos por quatro anos.

Na democracia, por exemplo, o resultado das eleições é a soma dos esforços estratégicos que durante anos anteriores foram realizados. Precisamos entender isso! Na democracia brasileira as regras do jogo mudam com certa frequência. É preciso conhecer as regras antes de jogar! É preciso deixar de ser apenas rancorosos e moralistas! 

Talvez, devido à complexidade do jogo que a democracia brasileira impõe, somado a diversos fatores sociais e históricos, tonar-se quase impossível para um cidadão acompanhar e compreender tal universo. Hiperconectados, hoje em dia, os brasileiros estão mais vulneráveis às propagandas, às narrativas políticas e ideológicas. Compreender como esses discursos são construídos é o outro lado do jogo. Mas, deixar para pensar nisso, nos “45 do segundo tempo” é desaconselhável.  

Enfim, a narrativa, habilmente propagada por Plutarco ao longo dos séculos, ilustra não apenas a busca pela honestidade, mas também a influência da propaganda moral na construção das expectativas em torno dos líderes políticos. Propaga também uma visão de cidadão apaixonado e irracional, o que nem sempre é verdade.

O marketing, essa nova ferramenta que veio para ficar, nos convida a uma nova postura cidadã. Ele nos chama, como nunca, a uma consciência crítica do universo democrático.

Assim, ao invés de nos deixarmos seduzir apenas pelas narrativas simplistas de virtude individual, devemos reconhecer as nuances e desafios do cenário político brasileiro, comprometendo-nos a participar ativamente do processo democrático com responsabilidade, consciência e ética. ___***Eduardo Leite é doutor em História pela UFMT

 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Jornal Correio Cacerense. 




fonte: Eduardo Leite



anuncie AREEIRA JBA
»     COMENTÁRIOS


»     Comentar


Nome
Email (seu email não será exposto)
Cidade
 
(Máximo 1200 caracteres)
Codigo
 
Publidicade
Multivida
zoom
sICREDI RS
High Society
Hoje é dia de celebrar o talento e a energia contagiante de José Carlos Menacho, o querido DJ Moreno, que comanda as pistas e anima as noites da cidade como ninguém! Conhecido por suas batidas eletrizantes e sets impecáveis, DJ Moreno é referência nas melhores festas e eventos. Que seu aniversário seja tão incrível quanto suas apresentações e repleto de sucesso, alegria e muita música boa! Parabéns, DJ Moreno, que venham muitos anos de som e diversão! Neste sábado, o estimado advogado Expedito Figueiredo Souza comemora mais um ano de vida! Conhecido por sua competência, integridade e dedicação à profissão, ele recebe os parabéns de amigos, familiares e colegas de trabalho. Que este novo ciclo traga ainda mais sucesso, realizações e momentos de felicidade. Feliz aniversário, Expedito! Que seu dia seja repleto de alegria e que as conquistas continuem a marcar sua trajetória! Vivas a Erly Miranda, que celebra mais um ano de vida! Rodeada de amigos e familiares, ela recebe o carinho de todos que têm o privilégio de conhecê-la. Sempre querida por sua generosidade e simpatia, Erly merece uma comemoração à altura! Que este novo ciclo traga ainda mais realizações, saúde e momentos inesquecíveis. Feliz aniversário!
Ultimas notícias
Exediente
Versão impressa
High Society
Fale conosco
VARIEDADES
POLÍTICA
POLÍCIA
OPINIÃO
ESPORTES
EDITORIAL
ECONOMIA
CIDADE
ARTIGO
Jornal Correio Cacerense 2015
Copyright © Todos direitos reservados