Liberdade como pena
Data:04/12/2019 - Hora:06h15
A liberdade, seu sentido e alcance, sempre figurou como uma das grandes preocupações da humanidade. Teóricos e idealistas debruçaram-se sobre o tema, avançando-o para vários campos do conhecimento humano, podendo citar a psiquiatria, psicologia, filosofia, direito, teologia etc. Quer seja no direito de opinião e sua expressividade, na natureza humana ou mesmo na condição de não ser prisioneiro ou escravo, a liberdade seduz. ‘Introjetar’ parece ser a especialidade dessa grave questão existencial. Buscar independência e autonomia no universo da alteridade moderna, com sua interconectividade, parece ter significado maior que simplesmente ter livre arbítrio.
Nas perguntas da jornalista Carolina Cunha (Novelo Comunicação), a dimensão temática: A liberdade seria uma experiência da condição humana? Um valor que nos define ou um valor da nossa ação? Somos livres de verdade? Temos limites e o outro tem limites? Será que temos liberdade sobre o nosso próprio corpo, nossos pensamentos e nossas ações na sociedade? Considerando que para Aristóteles é livre e voluntária a ação que não sofre coações, e, para Sócrates, é livre aquele que consegue dominar seus sentimentos, pensamentos e a si próprio, Kant designa a liberdade como autonomia. Mais pragmaticamente, sabemos que a liberdade, pura e genuína, é impossível, pois, sofre limitações por parte do Estado, dos indivíduos, do Direito, da ética, da cultura etc.
A liberdade em Santo Agostinho é mais realista, visto entendê-la como fruto de uma escolha. Assim, o homem é livre porque pode escolher entre o bem e o mal, o que, ressalvada as devidas proporções, aproxima da sentença existencialista de Sartre: ‘estamos condenados a ser livres’. Mas, no mundo contemporâneo, quem ousa dizer ‘sou livre’? Nem Lutero nos permitiu a liberdade plena ao afirmar que Deus controla a tudo e a todos. Sim, o Criador!!! Em nosso tempo, surgiu um controlador maior e mais impiedoso: o politicamente correto. Ele nos faz grandes favores, sem dúvida, dentre os quais – calar a ignorância e idiotice de muitos, que a internet deu voz (Umberto Eco) -. Mas também tem um viés significativo de imposição de limites à liberdade.
Mas há liberdade quando a consciência desdenha de sua presa? A verdadeira liberdade pode estar com Dostoievski. A liberdade, segundo o genial romancista russo, tem como único caminho o sofrimento e o flagelo interior, o próprio juízo moral da pessoa em sofrido e sério processo de reflexão. Livres o são aqueles inculpados de consciência. E se houvesse uma máquina, não só para detectar mentiras, mas, igualmente, para decifrar consciências? Trazer a lume tudo aquilo que a consciência projetar? Não seria fantástico viver num mundo em que as consciências são conhecidas por todos? A pena seria privilégio daquele que, sob jugo moral intenso, vivesse seus diários flagelos. É por aí…___*Gonçalo Antunes de Barros, é formado em Filosofia e Direito pela UFMT; é da Academia Mato-Grossense de Magistrados (AMA), da Academia de Direito Constitucional (MT), poeta, professor universitário e juiz de Direito em Cuiabá.
fonte: Gonçalo Antunes de Barros
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