As Metáforas Perfeitas
Data:09/05/2019 - Hora:06h46
Acredito na pasteurização do namoro e do prazer sexual transformado em produto de consumo, muito bem manipulado pelo marketing. Isso é sem dúvida um subproduto da revolução sexual dos anos 60. Ainda que ninguém mais leve a sério as ideias de Wilhelm Reich (ele acreditava, por exemplo, que a liberação sexual traria o socialismo), algo daquele discurso forjado na esteira do feminismo, da pílula anticoncepcional e na crença de que o homem é senhor do próprio destino permaneceu, apesar da Aids e de algumas ofensivas conservadoras. Ao mesmo tempo, vivemos a fase dos sexólogos respondendo perguntas dos telespectadores em transmissão pela televisão, em revistas e jornais. Em jogo a orientação sexual do jovem com o respaldo da ciência, assegurando o crédito dos programas e colunas. Revistas femininas e masculinas, tanto em formato papel ou em cdrom, tornaram-se verdadeiras enciclopédias do sexo, abordando da anatomia as parafilias (cada um de um grupo de distúrbios psicossexuais em que o indivíduo sente necessidade imediata, repetida e imperiosa de ter atividades sexuais, em que se incluem, por vezes, fantasias com objeto não humano, autossofrimento ou auto-humilhação, ou sofrimento ou humilhação, consentidos ou não, de parceiro. Deste grupo fazem parte o exibicionismo, o fetichismo, a frottage, a pedofilia, o masoquismo sexual, o sadismo sexual e o voyeurismo) que a maioria de nós desconhecia. Inexiste portal na Internet que não dedique gigabites ao assunto. O modelo site de comunidade e amizades, além dos programas de orientação sexual e namoro na TV, obviamente estão longe de propor a anulação dos tabus sexuais. O uso ritual da tecnologia serviria para desrecalcar a experiência da morte individual, pois “a internet seria um terreiro eletrônico”, diz Zé Celso Martinez. Todos são até bem-comportados demais para o meu gosto, o que o torna um pouco maçante e artificial. Mas eles colocam-se como um jogo de “livres” escolhas que é a metáfora perfeita - a exemplo do cadastro de informações gerais sobre o usuário - de uma sexualidade alienante e alienada, que é mercadoria mas se pretende como intermediador ou praça virtual.***___Rubens Shirassu Júnior, escritor, pesquisador, jornalista e pedagogo em São Paulo. Autor, entre outros, de Religar às Origens (ensaios e artigos, 2010) e Sombras da Teia (contos, 2016).
fonte: Rubens Shirassu Júnior
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