Pendura a Balança!
Data:11/08/2018 - Hora:08h16
Reprodução Web
Saudades dos penduras, bons tempos que lá se vão décadas, a gente cursando metade do curso de ciências jurídicas, mais conhecido como Direito, aquela inveja dos bichos calouros que não podiam participar e nós já no caminho de veterano, feriado na faculdade, zarpava à noite bem assessorado pelos mestres, rumo ao melhor restaurante da cidade, pro boca-livre. Era o nosso dia, 11 de Agosto, o Dia do Advogado, nosso grupo de futuros bacharéis, de olho no exame da OAB pra ser chamado de doutor, precisava honrar a tradição, gatas e gatos borralheiros até as 12 badaladas do dia 11, depois, ou pagava ou ia em cana. Fosse o que Deus quiser e que Santo Ivo nos protegesse, porque tinha uns donos de restaurante que apelava, desconsiderando a tradição do Dia do Pendura, oriunda das arcadas do Largo de São Francisco, quando os estudantes de direito escolhiam o dia do advogado para comer e beber sem pagar. Como se festeja igualmente o dia do garçom, mandava a tradição que o grupo fizesse uma vaquinha pro profissional da bandeja, agora, pagar a conta, never. Participamos de dois penduras, no 7º e 8º termo, neste segundo quase deu policia no pedaço, não fosse este editor redator de um jornal diário na época, negociar com o comerciante, a coisa ia feder, porque pagar, nunca mesmo. A gente abriu este médio preâmbulo, para relembrar um antológico do veterano de direito, o Pendura, coisa de aluno pobre dos anos 30 que pendurava os almoços, na base do devo e não nego, pago quando puder, ultimamente, expressão popular alusiva a situação financeira de muitos consumidores brasileiros diante dos bancos, financeiras, prestadoras de serviço e comércio em geral. E neste Dia do Advogado, 11 de Agosto, voltando a mesma data de 1827, justifica-se a efeméride, pois foi naquele longínquo dia que as primeiras faculdades de Direito do Brasil foram inauguradas: a do Largo de São Francisco em São Paulo, de onde veio o Pendura e a de Olinda, em Pernambuco. Fato este, importante em nossa história, ocorrido cinco anos após a promulgação da Independência três, depois da instituição da primeira constituição federal do Brasil. Assim, foram criados os primeiros cursos de direito, ora pois, Dom Pedro I, imperador naquela época, percebeu que faltavam brasileiros com conhecimento jurídico e se viu na necessidade de implantá-los nas terras de aquém-mar. E assim a fila andou, a banda tocou, em 1930, Getúlio Vargas criou Ordem dos Advogados do Brasil, arrochando os rábulas, em 1940 reformou-se o Código Penal e ser doutor adevogado, como diziam alguns, era status. Meio século depois este editor pegava o canudo, prestava o exame da ordem e mesclava o jornalismo com as lides forenses, quando não havia ainda as Law-fares, delações premiadas e demais chicanas que deformavam aos poucos a séria função advocatícia. Décadas passadas, pouco se tem neste 11 de agosto para se comemorar neste contexto, os poderes se apodrecendo, a verdadeira advocacia ameaçada de extinção, defensores públicos isentos do exame de ordem, os louros ficam para poucos, a saudade dos bons tempos, para muitos. Apesar de tudo, colegas de labuta, a luta continua, ad-argumentandum tantum, data-vênia, mesmo com as adversidades, o ad-vocatus honesto, ético, sério e real, pode nem ficar rico, mas será sempre aquele doutor liberal, graduado; apto a exercer o jus postulandi em juízo ou fora dele em defesa dos oprimidos, um paladino da justiça do munus publicum e aqui fica nossa saudação aos colegas discípulos de Thêmis.
fonte: Da Redação
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