Cara de Santo
Data:02/08/2018 - Hora:06h41
No domingo passado escrevi uma crônica/confissão para meu anjo-da-guarda, dizendo de sua grande paciência em ouvir e me compreender. Ouço sempre histórias autênticas de pessoas salvas sob as asas protetoras desses nossos amigos invisíveis. Hoje, leitoras e leitores, gostaria mais ainda de escrever que choveram anjos na sua horta depois da crônica. Anjo-da-guarda é papo quente. Se bem que alguns são meio vadios e nem sempre cumprem horário integral. Não resisto à angelical tentação de descrever o perfil de Caio Fernando Abreu, uma imagem meio epifânica. Quando ele esteve em Presidente Prudente convidado para participar da bienal do livro, conversamos um pouco numa mesa tomando “água mineral”. Depois teve um show instrumental com todas aquelas luzes.
Falou mais sobre a sua adaptação de “O Marinheiro”, de Fernando Pessoa, para o teatro, do que olhar os acontecimentos da feira de livros. Lembro-me dizer que adorava Virginia Woolf. Olha como um estranho estrangeiro que chega na terra desconhecida. Era um “mutante” na linda definição de Lygia Fagundes Telles, amiga e companheira dele há tantos anos. Discutíamos o nada e o tudo. Fiquei na completa intradução. Aliás, poucas pessoas tornavam-se amigas do Caio F. As pessoas ficavam curiosas em decifrar aquela sua aura de mistério. Que coisa interessante! Que cabeça! E aqueles olhos ternos e enigmáticos? Nada mais único.
O Caio tinha cara de santo, de anjo, de Dom Quixote. Não foi a doença que o deixou tão magro. Quando ela chegou, ele já não tinha mais o que emagrecer. No meio de luzes entrecortadas, vi o Caio sair do salão e passar por mim pela última vez, iluminado de branco, com uns lampejos de luz em torno da sua cabeça. Sumiu como um anjo sem trombeta. Sabia que nunca mais o veria. ***___Rubens Shirassu Júnior: Designer artístico, jornalista e autor entre outros de Religar às Origens (Ensaios, 2003) e Oriente-se: Manual de Procedimentos no Japão, 1999.
fonte: Rubens Shirassu Júnior
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