Mary, a Caminhoneira
Data:29/05/2018 - Hora:08h34
Hoje vou contar a história da minha amiga Mariazinha, (Mary, pra turma), a gente curtia numa Nice, em nossos 20 e poucos anos, voltadas aos estudos, conhecer o príncipe encantado num cavalo branco, ao som de Los Hemanos cantando Ana Julia, no sertanejo romântico, Pense em Mim, do Leandro e Leonardo e mil sonhos nas cabecinhas avoadas. Ali pra 1992 não vi mais a Mary, que se mudara pra Cuiabá, onde seu pai era caminhoneiro e ela me dizia que sonhava seguir a profissão do pai, um caboclo tchapa e cruz, o Seu Ambrósio, gente boa, que comandava um Scania 113 como ninguém, digoreste mesmo. A gente se falou uma vez em 2012 num shopping em Cuiabá, numa pausa de frete na Ceasa, ela já estava montada num bruto, havia se tornado caminhoneira e seis anos depois, olha a Mary de novo buzinando em meu email; de um bloqueio na BR 101, segundo ela, na altura do km 237 em Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro. Ela buscava noticias de Cáceres na greve dos caminhoneiros e o único jornal daqui que falava sobre o assunto, era o Correio Cacerense. Ela viu meu nome no expediente e mandou uma mensagem, respondi e repassei o meu whattsapp. No Viva Voz, ela, da boléia de um bruto Scania G-420 traçado, ano 2010 e eu, aqui na redação, batemos aquele papo. Danadinha da Mary, tinha mesmo se aboletatado e estava engolindo lua, conforme me disse, há mais de 10 anos e dali não saía. Tinha se casado, separado, e agora, sua paixão era o caminhão, passando a fazer parte dos 2,6% de mulheres motoristas, que cediço, além de sofrer preconceito pela profissão, também são mal remuneradas. Resolvi esta semana, registrar o reencontro via-fone com minha coleguinha dos anos 90 por dois motivos: um deles, nunca escondi a questão de solidariedade com as pessoas injustiçadas, dever que herdei de meus pais Aderbal e Orfélia; e segundo, para revelar o pouco que aprendi pesquisando, a difícil vida destes cowboys das estradas, cujo ônus é pesado, a começar pela CNH exigível c/f categorias: C para dirigir veículos de carga com peso bruto total acima de 3.500 kg; Já a D é mais específica para o transporte de passageiros; Concluindo, a E, a mais alta categoria de habilitação, é exigida para dirigir uma combinação de qualquer veículo que tenha um peso bruto total de 6.000 kg ou mais. Ainda prefiro a minha CNH categoria AB, que não tem tantas despesas, apesar de exigências, como renovação da validade coincidente com o exame médico a cada 5 anos e demais despesinhas de DETRAN. Falando sobre os caminhoneiros, Mary, me citou alguns gastos com viagens, despesas necessárias para que possa realizar a entrega negociada com o embarcador. Tem o combustível, um dos principais custos para 94,5% dos profissionais; gasto com pneus, cuja média de tempo para troca é de 13,6 meses; os pedágios, que são muitos e caros, pela péssima qualidade das estradas; as refeições, estadias, paradas e a manutenção às perdas relacionadas ao caminhão, principal patrimônio do profissional e sua ferramenta de trabalho. E quando estes heróis com a água no queixo saem à luta em defesa da vida, sufocados pelo criminoso preço do diesel e impostos, são ameaçados com uso da força bruta pelo governo, a gente não podia ficar calada. Coragem, Mary, fé em Deus, que depois dessa tempestade, vem a bonança, e passando por Cáceres, venha aqui matar saudades, ouvir novamente Los Hermanos, afinal, continuamos hermanas.***___Rosane Michelis – Jornalista, bacharel em geografia e pós em turismo.
fonte: Rosane Michelis
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