Suru Bico Doce
Data:27/03/2018 - Hora:08h16
Suru-bico, bico, bico, quem te deu tamanho bico, foi a velha sucareira, que andou pela ribeira, atrás de ovos de perdiz, para filho de juiz, ... uma brincadeira de crianças de meados do século passado, repassada pelos pais e avós, mas infelizmente esquecida com o tempo. Segundo a pesquisadora de folclore Leda Saraiva Soares, da Rota Açoriana, não se sabia ao certo, o significado daquelas palavras desconhecidas do vocabulário, mas o que encantava era o ritmo e a brincadeira em si. Curiosa, lembro que fui até o Pai dos Burros e decifrei que suru significa curto, tipo, galinha sura é galinha sem rabo, daí, que suru bico, é bico curto, e na brincadeira se pergunta: “quem te deu tamanho bico?” uma referencia ao bico curto. Já, sucareira, por mais que eu buscasse e pesquisasse, só encontrei algo similar, no Dicionário Lello Universal, Enciclopédico Luso-Brasileiro, a palavra chocalheira cujo significado é, mulher Indiscreta, faladora, linguareira. A questão da brincadeira foi só um mote pra contar resumidamente aos amigos leitores, uma passagem de um bico que não é suru, mas grande e doce em suas artimanhas, coincidentemente, não o filho, mas um juiz, o álibi do vigarista na aplicação do golpe. Pois bem, um distinto fala mansa, chegou a uma revendedora de veículos em véspera de feriado e dizendo-se amigo do juiz de direito, digamos, o Dr. Justo Honestino, tradicional numa cidadezinha do interior. E, que segundo o maroto 171, bem vestido, seu togado amigo, queria comprar o carro do ano, para presentear uma amante, solicitando vênia, o maior sigilo, afinal, se tratava de um respeitável magistrado. Claro, que na maior discrição, o veículo sedan 4 portas, foi entregue na casa da tal amante, já que havia a praticamente certeza, que o Doutor pagaria a vista, o possante logo após o feriado. Pois bem, era uma sexta feira de carnaval e no domingo, carro com tanque cheio, o tal vigarista e sua parceira que nunca tinha sido amante nem de juiz de futebol, zarparam pra LINS (Lugar Incerto e Não Sabido). O vendedor ligou na quarta feira de cinzas pro juiz que nunca teve amante, usava o carro da esposa e jamais havia pensado em comprar outro veículo e se alguém usasse o fato na internet, ele mandaria prender o engraçadinho. E lá se foi o dono da revenda de carros, curtir sua quaresma na berlinda, falando sozinho, coçando a careca e lembrando de quando era criança e brincava se suru-bico, bico, bico e do filho do juiz. A velha sucareira voltara, agora, de mauricinho engravatado, cheiroso, suru bico doce, e fala mansa, catando um carro zero, no lugar de ovos, coisas da vida, que parecem ficção, mas acontecem no cotidiano. ***___Rosane Michelis – jornalista, bacharel em geografia e pós em turismo.
fonte: Rosane Michelis
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