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Deixa o galo cacarejar!!!
Data:22/10/2016 - Hora:09h43
Deixa o galo cacarejar!!!
Arquivo Pessoal

A notícia, amplamente veiculada na última semana, sobre a hercúlea tentativa dos fiscais da prefeitura de proibir o cacarejo do galo, de nome Soldado, independentemente se verdadeira ou fictícia, mais do que despertar a minha imaginação para uma possível entrevista com ele, tendo, obviamente, como cenário, o terreiro em que vive, fez-me refletir sobre o senso de progresso em vigor no município e sua relação com a construção e consequente preservação de nossa identidade histórica.

Cáceres também se sustenta nas coloquialidades, nos relatos, nas narrativas, nas contradições, nos ditos e tipos populares que correm e se esparramam pelo seu perímetro. É por essa razão que a oralidade, que pulsa das praças, dos botecos, do cais, do banco da rodoviária, dos churrasquinhos, do mormaço que sobe do rio em dias de muito calor, dos carrinhos de baguncinha e dos pés de manga, não pode jamais ser desprezada em prestígio e louvor a uma suposta história nominada de oficial, burocratizada, linear, elitizada, personificada na figura de alguns poucos e questionáveis heróis, usada, direta ou indiretamente, como marketing do progresso ou de uma velada higienização.

Proceder assim é apagar, maldosamente, tudo aquilo que não se considera cosmopolita, globalizado e exportável aos olhos e às exigências do mercado, o tal ente abstrato, que todos sempre falam, alguns exaltam, mas nós, gente da gente, ademais de nunca o termos visto, ainda somos obrigados a sentir os seus efeitos não tão agradáveis no dia a dia; é ignorar as cores, os sabores e as peculiaridades que se colocam para além da mesmice enlatada das prateleiras de supermercado; enfim, é tentar escrever, ilegitimamente, um contexto maquiado, padronizado, aprazível e digerível por gostos mais refinados, que inclusive não guarda qualquer correspondência com a realidade que nos abriga. Isso não é progresso! É o mais puro e límpido retrocesso. Isso não é erudição! É autofagia de riquezas e preciosidades.

Contrapormo-nos a práticas e pensamentos como esses significa, minimamente, lutarmos por uma cidade que continue a ter rostos, vozes sensações, sensibilidades, cheiros e humanidades. Uma cidade, portanto, mais inclusiva e menos excludente, mais diversa e menos autoritária, mais aberta à

diferença e menos preconceituosa, mais popular e menos segregadora. Não darmos às costas à multiplicidade que nos forma, saber quem somos, de onde e do que estamos falando, contribui sobremaneira para construirmos caminhos alternativos, cujos custos sociais e culturais não sejam extremamente sacrificantes.

Pergunto-me constantemente: onde estão, não apenas os registros, fotos ou documentos, mas a visibilidade, o apreço e o diferencial a ser dado às lavadeiras que pelas manhãs rumavam ao Paraguai com bacias cheias de roupas na cabeça? Aos campeonatos amadores de futebol que há décadas movimentam as periferias como único meio de lazer? Às casas de Umbanda e Candomblé, quase sempre ocultadas ou marginalizadas, mas muito frequentadas? Às benzedeiras que tantos peitos abertos fecharam, quebrantos tiraram e impinges curaram? Aos verdureiros, leiteiros e padeiros que, de bicicleta, deixavam seus produtos dependurados na maçaneta da porta de seus clientes? Às rezadeiras que há um par de anos seguem passando de geração em geração a ladainha em latim cantada nos festejos que organizam ou frequentam? Às novenas e trezenas de santos e padroeiros que congregam pessoas das mais diferentes idades? Às parteiras que tantos nascimentos fizeram? Às filhas de sitiantes que vinham para a cidade trabalhar como domésticas e babás e nas horas vagas estudavam? Ao carnaval de rua que arrastava multidões pelos espaços públicos? Sem sombra de dúvidas, cada um desses ingredientes igualmente compõe a nossa mistura.

O progresso, no modelo que se apresenta, tem das suas artimanhas. Chega sedutor, de mansinho, com discursos bem estratégicos, prometendo-nos mundos e fundos, paraísos e recantos dos mais floridos. O interessante é que às vezes as maravilhas anunciadas são tamanhas, que, deslumbrados, esquecemo-nos de que para tudo há um preço, seja material ou imaterial, seja para ser pago no presente ou no futuro; ignoramos o fato de que o necessário compartilhamento das benesses e vantagens, eventualmente geradas, não é realizado de forma democrática, longe disso, é carreado para os bolsos de poucos, como as experiências, lamentavelmente, têm nos revelado.

Não se trata de uma aversão às mudanças, uma guerra contra o progresso, ou um apego caprichoso e saudosista ao passado, mas de uma preocupação essencial com a pluralidade de elementos que dizem muito a nosso respeito e que não podem se transformar em mera nostalgia, em lenda, ou pior, cair, em razão do abandono e da baixa valorização, na vala da indiferença. Muito melhor do que só pertencer à memória ou só ficar na saudade é tirar nossas miudezas do anonimato, é libertá-las da mordaça que as silencia, é preservá-las e desfrutá-las com responsabilidade.

Deixa o galo cacarejar!!!

 

José Ricardo Menacho, Professor do Curso de Direito (UNEMAT/Cáceres),

Autor do Livro “O Plural do Diverso”, ed. Novo Século.

 




fonte: José Ricardo Menacho



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