Adoção x Preconceito
Data:25/05/2016 - Hora:09h12
Hoje 25 de maio é comemorado o Dia Nacional da Adoção, criado em 1996 no I Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção. É uma realidade social que se concretiza através de ato jurídico, que “cria entre duas pessoas vínculo de parentesco semelhante à paternidade e filiação”. O processo de adoção não é fácil. As pessoas interessadas nas crianças ou adolescentes devem apresentar uma documentação sobre suas condições de vida, para garantir que a pessoa adotada terá conforto e segurança, que irá ser bem tratada e receberá dos pais adotivos amor, carinho e atenção.
Após quase três décadas da implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a adoção no Brasil permanece mergulhada no preconceito. Com tamanha desinformação, não chega a surpreender o fato de centenas de casais estarem inscritos há anos em lista de espera - e a demora nem é causada somente por entraves burocráticos, o ECA simplificou a legislação sobre o tema - e abrigos permaneceram lotados de crianças quase desesperadas por um lar.
Mais de 5 mil crianças e adolescentes esperam por adoção no Brasil. O número representa uma fatia mínima na população de pequenos brasileiros abandonados pelos pais, que chega a 8 milhões. Nesse grupo, 25% deles estão nas ruas. Os demais são criados por familiares ou adotados informalmente. Os 5 mil pequenos brasileiros na fila por pais adotivos enfrentam um outro problema que chega a ser irônico: o excesso de interessados em levá-los para casa. A média aponta que são cinco pais para cada criança e adolescente aptos para adoção. Porém, a grande maioria de aspirantes busca recém-nascidos e sem problemas de saúde.
No Brasil, o perfil exigido pelos casais interessados em adoção se restringe às crianças brancas recém-nascidas e na grande maioria meninas. Um preconceito sem tamanho. Amor devido à cor de pele ou necessidade de apresentação da criança como filho biológico não merece esse nome. A adoção é um ato de amor que obviamente tem de ser exercido com extrema responsabilidade.
Não bastasse o preconceito, responsável pela privação de um lar a milhares de crianças, parcelas da sociedade brasileira têm dificuldades em compreender a necessidade de responsabilidade da adoção.
A adoção é um processo lento e, muitas vezes, desgastante. O tempo estimado para quem deseja adotar uma criança chega até um ano. Uma eternidade para ambas as partes, seja para os futuros pais, que se sentem ansiosos e temerosos diante da espera, seja para as crianças, que amargam a carência familiar e precisam administrar a solidão e a frustração de não ter um lar.
O problema está nas exigências. Os aspirantes buscam recém-nascido, sem problemas de saúde e branco. Isso faz com que o ato seja ainda mais complicado e se arraste ao longo do tempo.
A imagem da família feliz, sem relações biológicas, esconde questões que os casais abertos à adoção precisam refletir. Por que não adotar crianças com mais de sete anos ou adolescentes? Por que não adotar uma criança negra? Porque não adotar uma criança que possua algum tipo de deficiência?
Tais exigências mostram que a adoção tem, na maioria dos casos, um caráter egoísta de satisfação da paternidade. Nestes casos, a criança torna-se uma compensação, onde os candidatos a pais, não querem qualquer tipo de ônus, concessão e sacrifício, além dos habituais.
A adoção precisa estar livre de qualquer tipo de preconceito. É um ator de amor irrestrito, que não pode estar presa a estereótipos ou condição física.
Posicionamentos equivocados de uma sociedade não são mudados por decreto. É necessária a informação. Além de um grandioso ato de amor, a adoção obviamente proporciona um futuro melhor para nossas crianças. É claro que a adoção não existe para resolver problemas sociais e não será o abrigo em lares familiares que vai acabar com surgimento de novas crianças abandonadas. Mas cabe à sociedade incentivá-la. Ficará bem mais fácil sem preconceito. Bom dia!
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