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Para além das mercadorias, está o ser humano
Data:05/05/2016 - Hora:08h54

A realidade urge em nos revelar o fato, não tão agradável, de que o consumismo, mais do que uma simples ou despretensiosa busca pelo prazer, tem, indiscriminadamente, roubado nossas subjetividades.

Sem muito esforço, atentos sobretudo ao bombardeamento midiático de propagandas e anúncios, que, despudoradamente, vinculam a felicidade ao consumo, é possível verificarmos que os elementos a nos referenciarem enquanto seres humanos: autodeterminação, liberdades, integridade física e psíquica, traços étnico-culturais, estão sendo respeitados de acordo com uma dinâmica perversa, que contempla apenas as nossas potencialidades econômico-financeiras em adquirir ou ter acesso a certas bugigangas no dia a dia. 

Diante desse cenário nada animador, não há como negar que estamos a consumir a nós mesmos, a coisificar nossas relações, a nos medirmos não pelo que somos, pelas nossas capacidades, pelo que queremos ou pelo que desejamos ser, mas somente pelo perfil ou espaço que ocupamos na chamada sociedade de consumo. Estamos a caminhar, se é que já não estamos lá, rumo a um patamar existencial, ditado pelo patrimônio que amontoamos, pelos carros que obtemos e pelas fotos que postamos. Parece-nos que “o ter” começa, se é que não foi sempre assim, a reinar triunfante sobre nós.

De antemão, explicamos que a leitura que aqui fazemos, longe de condenações personificadas, são direcionadas à desconstrução do imaginário vigente que associa o consumo à concretização da dignidade humana, multiplicando, direta ou indiretamente, na mente de quem quer que seja, a falsa impressão de que o seu preenchimento perpassa a aquisição deste ou daquele produto. 

Por certo, o consumismo, tal como se apresenta, é prática que se contrapõe drasticamente à gramática de proteção e afirmação da dignidade humana, posto que, ademais de objetificar o ser humano pelos motivos que consignamos acima, alimenta a ideia de uma dignidade elitista, dadivosa, seletiva, limitada, quase sobrenatural, que se cumpre e se manifesta só para poucos, não para todos, só para os que podem, não para os que não podem, só para os calçados, não para os descalços. É curioso percebermos quando dentro das fronteiras desta temática que ao mesmo tempo em que lutamos pelo preenchimento do conteúdo dos direitos fundamentais, posições outras, numa esquizofrênica correlação de forças, avançam num sentido inverso, contribuindo, lamentavelmente, muito mais para o apequenamento de nossas grandezas do que para a libertação das amarras que nos oprimem.

Venhamos e convenhamos, não será a corrente de ouro que nos tornará mais ou menos humanos; não será o celular de última geração que nos tornará mais ou menos decentes; não será a roupa de alta costura e o sapato de grife que determinarão o nosso caráter. Não é o uso que denunciamos, mas sim o abuso. Não é o gosto ou a preferência por este ou por aquele penduricalho que discordamos, mas sim a consciência de obrigatoriedade em consumi-lo.

Muito distantes de adotarmos um posicionamento fatalista, exagerado ou pessimista, com os olhos fixos em nosso contexto, há de concordarmos que ao permitirmos que a lógica social seja concebida daquele modo, estaremos a corroborar, inequivocamente, para o aprofundamento da miséria humana. É interessante, para não dizermos trágico, que às vezes nos esquecemos de que simplesmente a conta não fecha, a matemática, mesmo que com justificativas das mais mirabolantes, não se aplica, seja porque os recursos naturais a suprir a gastança e a ostentação são indiscutivelmente esgotáveis, seja porque os sujeitos não podem ser confundidos com o que possuem.

Conectar a dignidade humana ao consumo, é dar um passo extremamente perigoso.  É autorizar a escravidão de mentalidades. É atribuir às pessoas preços, valores, juízos e rótulos, de acordo com sua atuação no comércio. É apenas enxergar números, estatísticas, porcentagens e projeções na multidão. É aprofundar ainda mais os abismos que há muito nos separam das periferias. É estabelecer tipos civilizatórios inacessíveis e impraticáveis para todos. É acelerar a depredação do meio ambiente. É ferir na própria carne os mais pobres.

Como contraponto, é importante considerarmos que para além do mundo encantado das compramos que cobiçamos, das redomas de vidro que erigimos, dos acúmulos que, compulsivamente, cultivamos e do esbanjamento que prestigiamos, há vida que pulsa, sentimentos que padecem, sangue que escorre, vozes que crepitam, rostos que choram, expressões que falam e corpos que agonizam;  há famintos que minguam pelas sarjetas, desempregados que vagam pelos becos e trabalhadores sem-teto e sem-terra que cavam suas próprias sepulturas no vale do desprezo.

Definitivamente não! A dignidade humana não pode ser contabilizada, dosada, restringida, graduada ou classificada. Ao contrário, é categoria que se vive, que se experimenta, que se saboreia. É cláusula aberta em constante construção. É a causa e a consequência de nossas lutas. É o que nos move. É o que nos alegra. É o que nos faz transcender os nossos egoísmos. É a luz que nos empodera. É o que nos torna únicos.

Para além das mercadorias, está o ser humano!

 

Prof. José Ricardo Menacho (UNEMAT/CÁCERES)

 

Eduardo Rehbein (UNIBRASIL/CURITIBA)




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